Conversa com Bial, rede Globo, promoveu um debate sobre a regulamentação da droga com a participação do rapper MV Bill, do neurocientista Stevens Rehen e de Luiz Eduardo Soares, antropólogo e especialista em segurança pública
Quando a maconha é remédio
Coordenadores da APEPI (Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal), Margarete Santos e Marcos Lins são pais de uma menina portadora de uma síndrome genética que, dentre outras questões, causa muitas crises convulsivas. Conheça a história da primeira família brasileira autorizada pela Justiça a cultivar maconha em casa.
Regulamentação
Luiz Eduardo Soares e MV Bill viveram a guerra das drogas em lados opostos. O primeiro é um antropólogo que trabalhou na Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro. O segundo é um famoso cantor nascido e criado na célebre comunidade carioca Cidade de Deus. Ambos são favoráveis à regulamentação.
“Não tem nenhuma razão para que seja proibida a produção, o comércio e o uso. Inclusive, a própria criminalização acaba aprofundando as desigualdades e intensificando o racismo. Dependendo da cor de pele, do endereço e da classe social, a pessoa é definida como traficante ou usuário”, afirmou Luiz Eduardo.
“Eu nunca fui um panfletário da legalização, mas também nunca fui totalmente contrário. Acho que é uma discussão importante, que tem que se ampliar mais (…) No Brasil, a gente precisa primeiro priorizar a educação e a informação. Aí teremos mais condições de abrir essa discussão. O viés mais proporcional para nossa realidade é o do tratamento medicinal”, ponderou MV Bill.
O neurocientista Stevens Rehen e Luiz Eduardo Soares, antropólogo e especialista em segurança pública. Também foram contemplados os pontos de vista dos pais de uma criança, que é usuária medicinal, e uma senhora pioneira no autocultivo no Uruguai, a argentina Alicia Castilla. Rehen iniciou o papo e resgatou as razões históricas da proibição da erva e suas qualidades medicinais, desmistificando algumas crenças:
“Em toda a literatura médica, não há um único caso de overdose associado à maconha”.
“A base [da proibição] foi racial, econômica e política. Nenhuma base científica”.
O neurocientista ressaltou que a erva tem um componente psicoativo, mas não chega a ser um alucinógeno, e citou alguns dos seus efeitos no organismo: “Os principais são aumento de apetite, relaxamento e euforia. Depende da dosagem. Se for um pouco maior, pode causar ansiedade, taquicardia, lapsos de memória e falta de motivação”.